POESIA é a forma especial de linguagem, mais dirigida à imaginação e à sensibilidade do que ao raciocínio. Em vez de comunicar principalmente informações, a poesia transmite sobretudo emoções.(*)
Por sua origem e por suas características, a poesia está muito ligada à música. Ela é uma das mais antigas e importantes formas literárias. Desde tempos remotos as pessoas sentem prazer em cantar enquanto trabalham ou brincam. Os poetas antigos recitavam histórias de deuses e heróis. Eles conquistaram grandes honrarias em todas as civilizações. Hoje em dia, nomes como T. S. Eliot, Pablo Neruda ou Carlos Drummond de Andrade merecem o maior respeito. Milhões de pessoas lêem poesia, e muitas já escreveram alguns versos, ao menos uma vez em suas vidas.
Ao longo do tempo, os poetas e os filósofos preocuparam-se em definir a poesia. Para o poeta espanhol García Lorca, "Todas as coisas têm seu mistério, e a poesia é o mistério que todas as coisas têm". O poeta francês Mallarmé, defendendo uma outra concepção, afirmou que "a poesia se faz com palavras, e não com idéias". E, segundo T. S. Eliot, "aprendemos o que é poesia lendo poesia".
TIPOS DE POESIA
Os poetas têm escrito poemas de vários tipos. Dois deles, entretanto, são considerados os principais: o poema lírico e o poema narrativo. Alguns críticos e ensaístas acrescentam, como um terceiro tipo, o poema dramático.
POEMA LÍRICO é geralmente curto. Muitos carregam grande musicalidade: ritmo e rima às vezes os fazem parecer canções. No poema lírico o autor expressa sua reação pessoal ante as coisas que vê, ouve, pensa e sente. Alguns teóricos incluem nesse tipo de poesia o poema satírico. Para conhecer os vários tipos de poesia lírica, veja BALADA; CANÇÃO; ELEGIA; HINO; IDÍLIO; ODE; SONETO. (*)
POEMA NARRATIVO conta uma história e geralmente é mais extenso que os outros. O poeta apresenta os ambientes, os personagens e os acontecimentos e lhes dá uma significação. Um exemplo de poema narrativo é Os Lusíadas, de Luís de Camões. As epopéias e as baladas estão entre os principais tipos de poesia narrativa. Costumamos pensar que as fábulas são trabalhos em prosa, mas muitas delas foram escritas originariamente como poemas narrativos. Para maiores informações sobre essas formas poéticas, veja: BALADA; EPOPÉIA; FÁBULA. (*)
O POEMA DRAMÁTICO assemelha-se ao poema narrativo porque também conta uma história e é relativamente longo. Mas, no poema dramático, essa história é contada através das falas dos personagens. As peças de teatro escritas em verso constituem forma de poesia dramática. Em sentido amplo, também pode ser considerado um exemplo o "Caso do Vestido", de Carlos Drumonnd de Andrade. Através de uma suposta conversa entre mãe e filhas, o leitor acompanha uma história de amor e traição e tem os elementos para reconstituir o caráter e os sentimentos dos personagens principais.
COMO O POETA ESCREVE. Para transmitir idéias e sensações, o poeta não se apóia unicamente no significado exato das palavras e em suas relações dentro da frase. Ele utiliza sobre tudo os valores sonoros e o poder sugestivo dessas mesmas palavras combinadas entre si.
Do ponto de vista de sua forma, a poesia caracteriza-se pela existência de versus (linhas que constituem o poema). No texto em verso, as linhas de palavras são tão extensas quanto o poeta o deseje. No texto em prosa, elas têm o tamanho que a página ou coluna que as contém comporta. Quem lê versos sente um ritmo mais ou menos regular, diferente do ritmo da prosa - veja PROSA (*). Os versos podem ou não ser reunidos em estrofes, grupos de dois ou mais versos. A rima (repetição de sons existentes no final dos versos) é própria da poesia, embora não indispensável.
Além disso, o poeta faz uso daquilo que as palavras podem sugerir ao leitor. Esse efeito sugestivo das palavras é obtido através dos sons que elas têm e, sobretudo, das diversas imagens, ou figuras de linguagem, que o autor for capaz de criar. Veja FIGURAS DE LINGUAGEM (*). Em suma, a poesia resulta da combinação sensível e inteligente de todos esses aspectos da linguagem.
VERSO E MELODIA. Os poetas modernos usam tanto o verso metrificado quanto o verso livre. O verso metrificado, isto é, que obedece a um esquema métrico, a uma espécie de "compasso" regular, é o tipo mais antigo e mais comum. Um poema em verso livre, como o de Cecília Meireles, não tem um esquema métrico regular Veja METRIFICAÇÃO; VERSO LIVRE (*). AMBOS OS TIPOS DE VERSO PODEM OU NÃO INCLUIR RIMAS.
Para se identificar que tipo de verso o poeta usa: basta ler em voz alta algumas linhas do poema. Se ele revela uma "batida" regular, um ritmo constante, isso significa que tem um esquema métrico e, portanto, está escrito em versos metrificados. Em caso contrário, trata-se de um poema em verso livre.
Assim que o leitor percebe o esquema métrico, o tipo de construção do poema, espera que ele continue regularmente até o fim.
Mas a melodia de um poema não reside propriamente em sua métrica. Ela resulta do uso que o poeta faz do esquema escolhido, e da liberdade que ele se permitir. O poeta encontra sua forma própria, mas não se torna escravo dela. Quando você lê ou ouve um poema, espera certa regularidade na cadência. Às vezes, entretanto, é agradavelmente surpreendido por algumas variações. Como nos poemas de João Cabral de Melo Neto.
OS SONS DAS PALAVRAS. Assim como um compositor aproveita-se dos sons dos diferentes instrumentos e do contraste entre notas graves e agudas, o poeta obtém efeitos musicais e significativos utilizando os diversos sons de que se compõem as palavras. Por exemplo, um verso em que existam muitas vogais abertas, como a , é, pode lembrar ao leitor um clima de alegria e luminosidade; a predominância de sons fechados r, ô, pode sugerir uma atmosfera pesada. É claro que o poeta não usa mecanicamente esses recursos, como se fossem ingredientes de uma receita. O bom resultado dependerá, em última análise, de sua sensibilidade. A utilização dos efeitos sonoros das palavras é mais conhecida através da rima e da aliteração. veja ALITERAÇÃO (*).
A rima, num paralelo com a música, já foi chamada de "harmonia do verso". Em principio, ela é agradável ao ouvido. Isso, por si só, já a justificaria. Mas, além desse aspecto, a rima pode ajudar a constituir o ritmo do poema, sobretudo na poesia clássica, onde assinala o final do verso. Aliás, as palavras rima e verso provêm do latim rhytmus, originado do grego rhythmós, "movimento regulado e compassado, ritmo".
A excessiva preocupação com a rima, sobretudo no parnasianismo, levou muitos poetas a forçarem sua expressão e caírem num formalismo de pouco significado. Hoje em dia, os poetas usam indiscriminadamente versos rimados e versos brancos. Veja PARNASIANISMO; VERSO BRANCO. (*)
A aliteração é uma repetição de sons consonantais dentro do verso, como neste exemplo se pode ver em "O Navio Negreiro", de Castro Alves: "Auriverde pendão de minha terra;/que a brisa do Brasil beija e balança."/. A aliteração pode ser usada para gerar eufonia (efeito sonoro agradável) ou para imitir sons ou ruídos naturais. Veja ONOMATOPÉIA (****).
IMAGEM E PINTURA. O poeta não trabalha apenas com a melodia da língua, mas também com as imagens e cenas que lança à mente do leitor. Às vezes, ele faz quase a pintura de uma cena, como neste início de "O Banho", de Ribeiro Couto:
Junto à ponte do ribeirão
Meninos brincam nus dentro da água faiscante.
O sol brilha nos corpos molhados,
Cobertos de escamas líquidas.
Mas o poeta não tem que limitar-se às coisas que podem ser vistas. Muitas vezes, para melhor comunicar o que pretende, ele sugere sons, movimentos, perfumes -- através de imagens bastante fortes. Em "Mormaço", Guilherme de Almeida, não é à toa que palmeiras e bananeiras têm "ventarolas"e "leques"; que "(...) as taturanas escorrem quase líquidas na relva que estala como um esmalte"; e que "--- uma araponga metálica --- bate o bico de bronze na atmosfera timpânica". O conjunto do poema transmite ao leitor a sensação de calor, desconforto e impossibilidade de sonhar sob uma tal temperatura. Ao chamar a araponga de "última romântica", Guilherme de Almeida está ironizando, pois nada existe de menos romântico que o canto seco e agressivo desta ave. Veja IRONIA (*).
PENSAMENTO E SENTIMENTO. Às vezes o poeta lida com idéias e emoções complexas, mesmo através de assuntos aparentemente simples. A "Morte do Leiteiro", de Carlos Drummond de Andrade, fala de uma situação comum -- a entrega do leite --- em linguagem bastante acessível. Mas, ao terminar a leitura, sentimos que o poeta deu a essa situação um significado muito mais amplo. Drummond transforma o que não passaria de uma cena policial --- confundido com um ladrão, o leiteiro é morto -- num retrato das diferenças sociais entre as pessoas, da violência da vida urbana e da insegurança dos ricos, preocupados apenas em defender suas propriedades. Veja este poema em POETAS ETERNOS. (clique aqui). (2) Fonte:"Enciclopédia Britânica, vol. 11, Poesia, Editora Encyclopaedia Brittanica Editores Ltda, Brasil. 1973. pg. 92-98"